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Empresário enfrenta escassez de crédito
Empresário enfrenta escassez de crédito.
Ao longo de 2009 e no início deste ano, a participação do crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve expansão maior do que no período pré-crise em 2008. Em janeiro, esse percentual atingiu 44,6% do PIB, volume semelhante ao resultado de dezembro de 2009, quando ficou em 45% e superior aos 39,7% verificados no ano de 2008. Mas esse aumento não é homogêneo.
"Os números podem levar a uma falsa ideia de expansão de crédito em geral, mas o que observamos é que os empréstimos para pessoa física e habitação têm cada vez mais participação do volume total. Já para o setor produtivo, esse montante só tem diminuído", afirma o economista Emilio Alfieri, do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (IEGV/ACSP). Ainda de acordo com Alfieri, desde o início da crise, os bancos direcionam seus recursos para onde têm mais garantias.
Tanto é assim que a liberação de crédito para o setor produtivo não tem acompanhado a aceleração da produção industrial e das vendas do comércio neste início de ano. Em janeiro, de acordo com o Banco Central (BC), o volume de empréstimos para pessoa jurídica recuou 0,2% ante dezembro de 2009. Para o segmento industrial, a queda verificada foi ainda maior, de 0,8%.
Alfieri acrescenta que houve diminuição de interesse dos próprios empresários. "Alguns setores ainda têm espaço para produzir sem precisar de novos investimentos, uma vez que, no ano passado, houve forte redução de demanda. O empresário está aguardando sinais mais fortes da retomada da economia para, então, investir em bens de capital, por exemplo", diz.
Para ele, a crise financeira elevou o risco de inadimplência das empresas, motivo que fez as instituições financeiras ficarem mais cautelosas na hora de emprestar, especialmente no caso dos bancos privados.
Em janeiro, os bancos privados nacionais apresentaram alta nominal do crédito – sem descontar a inflação – de 9,3% em relação a igual mês do ano passado. No caso dos estrangeiros, o aumento foi de apenas 0,5%.
Inflação – "Se levarmos em conta que a inflação em 12 meses até janeiro acumulou 4,56%, os volumes liberados ficam ainda mais reprimidos, especialmente dos bancos estrangeiros, que devem ter reduzido a carteira de empréstimos para remeter mais divisas às matrizes", diz Alfieri.
De acordo com o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, a trajetória esperada de crescimento do crédito para a indústria neste ano, na esteira do maior impulso da atividade, não teve início em janeiro. Um dos motivos, na opinião dele, é o fato de o primeiro mês do ano ser tradicionalmente marcado pelo menor dinamismo das operações de crédito de forma geral.
Além disso, ele afirma que esse fator pode ter sido reforçado pela retomada do avanço dos empréstimos a partir de setembro passado, sob a liderança dos bancos públicos. Assim, o resultado de janeiro refletiria uma acomodação após a aceleração verificada no último trimestre de 2009.
Na avaliação do superintendente de negócios do Grupo Santander Brasil, Mario Fanuchi, o primeiro bimestre apresenta naturalmente desaceleração, por conta da sazonalidade de janeiro, mês tipicamente de férias coletivas, e de fevereiro, que tem menos dias úteis (neste ano foram 18).
"Mesmo assim, tivemos uma expansão de concessão, especialmente para financiamentos de curto prazo, o que nos leva a ter boas perspectivas para 2010", diz Fanuchi.
Transparência – Ele afirma que o Santander sempre teve padrões muito rígidos de gestão de risco. "A crise só nos fez adequar melhor a carteira de clientes a esses padrões."
Para os empresários que estão com dificuldade de conseguir financiamentos, Fanuchi diz que o melhor caminho é a transparência. "Ele deve ser extremamente claro sobre o destino que dará aos recursos que está pedindo à instituição financeira."